terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Capítulo 2

Capítulo 2
Reminiscências de sentimentos não apagados


Masmorras do castelo de Shadow Master. Um lugar sombrio. Grades, bolas de ferro, manchas antigas de sangue nas paredes, espinhos, instrumentos de tortura diversos. Não é possível ver direito por causa da escuridão, mas será que aquela coisa num canto não é uma dama-de-ferro? Acredite, você realmente não gostaria de estar aqui. No momento, há apenas dois prisioneiros em celas separadas. Os esqueletos esquecidos em um canto não contam. Esqueletos de pessoas que provavelmente ficaram felizes ao se libertar, ainda que através da morte...


Estranha - Leonard? Leonard Linhely...?




Uma voz feminina soa nas masmorras, produzindo eco. Uma visitante? Uma torturadora? Nenhum dos prisioneiros reconhece a voz... E o rosto está oculto debaixo de um capuz.



Leonard - Quem é você? - o prisioneiro olha com um misto de desconfiança e temor a desconhecida.

Estranha - Não tenha medo, não vou te machucar. - ela fala tentando tranqüilizá-lo.

Prisioneiro - Cê tá bem, heim, Leo? Recebendo mulheres, quem me dera... - o outro prisioneiro se intromete.

Leonard - O que quer de mim?

Estranha - Bem, eu gostaria que me contasse a sua história. Vim de longe para isso.

Leonard - Ah sim, minha triste história... Não tenho mais o que fazer mesmo... Sente-se.

A misteriosa encapuzada senta-se, do lado de fora da cela, e ouve atentamente as palavras de Leonard.

Leonard - Eu tinha acabado de completar 20 anos. Conheci Íris quando a Morte e alguns demônios do fogo incendiaram minha vila. Fizeram isso porque eu estava lá, porque queria matar Shadow Master e estava comandando uma rebelião. Desgraçados... A Morte matou minha irmã na minha frente!! Para vingá-la, juntei-me a Íris e saímos numa jornada pelo mundo, para conseguir as pedras elementais e descobrir a localização do castelo de Shadow, que estava oculto. Foi a maior confusão... E então...

Leonard pára um alguns instantes, com uma cara de sofrimento, como se contar a história reavivasse toda a dor que sentiu.

Leonard - ... Então as coisas aconteceram tão de repente... Na batalha final, Íris usou o poder de seu crucifixo com as pedras elementais para me deixar momentaneamente invencível e assim derrotar Shadow. Mas... quando eu ia desferir o golpe final, ela me impediu... Ela... disse que ele merecia outra chance... disse que havia se... apaixonado por ele... Eu a amava... E ela sabia disso! Eu tinha me declarado! Ela disse que me daria a resposta depois da batalha... Era isso que ela queria fazer comigo?! Decepcionado e arrasado, voltei para minha vila e casei-me com Nadya. Dez anos depois, Shadow Master me procurou, não entendo por qual razão. Matou minha esposa e me prendeu aqui. Desde então, aqui estou, sem nada poder fazer. Sobrevivendo apenas por sobreviver. Não tenho coragem nem de acabar com minha própria vida. - é perceptível que ele ainda sofre muito ao se lembrar de Íris, seu primeiro e verdadeiro amor.

Estranha - Já faz sete anos...

Leonard - Sete longos anos. - ele assente com a cabeça.

Estranha - Trágico... - a desconhecida se levanta e abaixa o capuz, é Liriel. Mas Leonard não a reconhece.

Leonard - Eu amava mesmo Íris... enquanto ela...

Liriel - ...ela também te amava. Vocês teriam sido muito felizes juntos... - Liriel diz tristemente, mas com uma simplicidade enorme, como se dissesse que o céu é azul.

Prisioneiro - Ih, olha só, ela tá falando como se conhecesse... - o prisioneiro intrometido da cela ao lado.

Leonard - Como você... Quem...?! - ao ouvir as palavras da estranha, o coração de Leonard se acelera e ele sente uma sensação estranha, como se já a conhecesse há muito tempo...

Liriel - Não deveria pensar em se matar, Leonard. Você tem duas filhas. Não pensa nelas?

Leonard - Mas é claro que... eu... Quem é você?!

Liriel - Adeus. - ela se dirige à saída das masmorras

Leonard - Espere!!

Prisioneiro - Não adianta, cara, ela não vai voltar.

Leonard - Não dê palpites, Yan! Ei, você, volte aqui!!

Mas de fato, indiferente ao apelo de Leonard, Liriel simplesmente sai das masmorras. Afinal, ao contrário deles, ela é livre para ir e vir. Embora, como disse seu lobo, talvez esteja presa a outras amarras...

Do lado de fora havia alguém esperando por ela... O encontro inesperado causa muito espanto nela.

Liriel - !! Você...

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Bem longe dali, na Floresta das Águas...

Marya - Melhor ficarmos bem juntos para termos alguma chance de sairmos vivos daqui!

Eles estão cercados por lobos ferozes, nem um pouco amigáveis. Dezenas. Rosnando, prontos para atacar. Eles se parecem com Yamikaze, o lobo de Liriel.

Samanan - São lobos-das-sombras. Típico de elfos negros. - ele explica

Wingstorm - Normalmente eu me interessaria pela fofoca, mas... Grande coisa saber disso a essa hora, pra mim são apenas lobos querendo jantar a gente.

Elfa negra - Hahaha, vocês falam demais! - a voz vem do alto de uma árvore. Todos olham e vêem uma bela e curvilínea elfa negra em trajes que valorizam sua silhueta. Provavelmente trata-se da mestra dos lobos...

Marya - Uma elfa negra!

Elfa negra - Oh wow, que garota observadora. Acho que já viram meus bichinhos... Agora rendam-se e ninguém sairá ferido!

Wingstorm - Moça, eu sou um simples taberneiro! - Wingstorm diz, covardemente, mas sem tirar os olhos do corpo elfa, quase babando. Marya percebe a direção de seu olhar.

Marya - Além de fofoqueiro é covarde e tarado. ¬¬

Giulian - Não nos renderemos sem luta!! - ele fala bravamente.

Elfa negra - Hah! Bravatas. Como quiserem. Vão, meus lobos!

Atendendo ao comando de sua mestra, os lobos avançam. Segue-se uma batalha acirrada. Marya ataca com suas magias, Giulian com sua espada e Samanan com sua lança, enquanto Wingstorm simplesmente tenta se defender com seu facão. A elfa apenas observa do alto da árvore, parecendo entediada. Eles lutam bravamente, mas os lobos estão em vantagem numérica.

Samanan e Marya se dariam melhor em combates a longa distância. Giulian, coitado, mal consegue se desviar dos ataques e atacar ao mesmo tempo. Embora seja um guerreiro, aparenta ser muito inexperiente. Ou talvez seja pura falta de aptidão mesmo. Wingstorm, um mero taberneiro, inacreditavelmente parece atacar melhor do que ele.

Alguns lobos caem, cortados por Wingstorm e trespassados pela lança de Samanan. Giulian e Marya apenas conseguem ferí-los de leve. Entretanto, rapidamente os herois vão ficando cada vez mais encurralados e feridos, e provavelmente estariam mortos se os lobos tivessem ordem para matá-los. Subitamente, Giulian arremessa sua espada na direção da elfa. Ela se desvia facilmente, mas isso distrai momentaneamente os lobos, preocupados com sua mestra.

Giulian - Fuja, Marya!!!

Ela hesita por um breve instante e depois aproveita a brecha e sai correndo sem olhar para trás. Os lobos olham para sua mestra, esperando ordens para sair em seu encalço. Porém, a elfa faz um gesto de "deixa pra lá" e os heróis derrotados se rendem, vendo que seria inútil se machucarem ainda mais combatendo os lobos numa batalha perdida...

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Longe dali, do lado de fora do castelo de Shadow Master...

Meio-elfo negro - Não é permitido visitar prisioneiros, sabia?

Liriel - Poupe-me de suas ironias, Darklight. €??†d?†a Windsword!! - ela joga seu capuz para longe e pronuncia palavras em uma estranha linguagem, fazendo com que o vento ao seu redor se junte e se solidifique, tomando a forma de uma espada.

Ela ataca, mas o elfo se esquiva facilmente.

Darklight - É assim que você trata velhos conhecidos? É, terei que te ensinar boas maneiras... €??†d?†a Windsword! - o elfo faz o mesmo que ela.

Eles travam um duelo de espadas de vento, com Liriel em visível desvantagem. Darklight parece prever seus movimentos e consegue revidar e contra-atacar quase sem esforço. Dá a impressão que ele a conhece muito bem... Ou talvez haja algum outro motivo. Certamente ele domina a espada de vento melhor do que ela. O único ponto em que a jovem se sobressai é na agilidade: o meio-elfo é mais lento e ela poderia usar isso a seu favor, mas de alguma forma parece desconcentrada... Ela desvia de um ataque e tenta desferir um golpe na sequência, mas Darklight a surpreende. Ao invés de se esquivar, ele bloqueia o ataque com a espada e usa sua força para empurrar Liriel. Ela cai no chão e sua espada se desfaz no ar.

Darklight - Você ainda não é páreo para mim, cabelinho roxo. Não vai ser tão fácil se livrar de mim... - ele diz, provocativo. O apelido provavelmente é por causa das duas mechas roxas que se misturam ao cabelo preto de Liriel, uma de cada lado do rosto. Ela faz uma careta ao ouvi-lo.

Liriel - Maldito... Não me chame assim!

Darklight - Sabia que enquanto você perde tempo visitando prisioneiros seus amiguinhos correm perigo?

Liriel - Não tenho amigos. - ela se levanta.

Darklight - Por sua própria escolha.

Liriel - ... tsc. Minha escolha, é? - ela se vira para ir embora e dá alguns passos.

Darklight - Pobre Marya... Mas talvez ela goste de rever o pai, não acha? - ele sorri, sabendo que aquilo vai chamar a atenção de Liriel.

Liriel - Que tem ela? - ela para, mas não volta a olhar para o meio-elfo negro.

Darklight - A essa hora, Sarah já deve ter capturado todos eles.

Liriel - Sarah... - Liriel faz outra careta. A simples menção desse nome parece desagradá-la.

Uma garota se aproxima dos dois, saindo do castelo.

Garota - Não todos, estava vendo através de um dos bichinhos de Seth... Marya fugiu. Covarde... - ela fala com desprezo.

Quem fala é uma jovem de ondulados cabelos roxos. Se você tivesse conhecido Íris, certamente diria que ambas se parecem um bocado. Liriel permanece de costas para eles.

Darklight - Olá, Narya. Que coincidência vê-la aqui.

Narya - Outro bichinho de Seth me mostrou que Liriel achou o dia bonito para passear pelas masmorras. Ainda bem que você a segurou por tempo bastante para que eu os encontrasse.

Liriel - Pois eu acho que não tenho mais nada a fazer aqui. Adeus. - ela vai andando.

Narya - Espere, Liriel.

Liriel - ... - ela para de novo, a contragosto

Narya - Estava pensando... Você podia ajudar em nosso plano.

Liriel - O que a faz pensar que eu faria isso? - ela fala ainda sem olhar.

Narya - Você teria a chance de atormentar Marya. Não acha divertido jogar herois idiotas uns contra os outros? Eu sei que acha... E sei que você adoraria tornar a vida de Marya um inferno. Não te dá raiva, a menina sem saber nada de vida e querendo bancar a heroina? E também tem o Samanan. Não queria encontrá-lo? Isso sem falar no seu...

Liriel - Fique quieta. Você fala demais. - ela corta o que quer que Narya fosse dizer, como se já soubesse o que era.

Narya - Certo, certo, você prefere não tocar no assunto... Sabe, Liriel, eu gosto de você. No fundo, somos parecidas, ambas sofremos por causa do passado, por causa de erros que não foram nossos. Bem, você sabe exatamente o que tem que fazer. Semear a intriga... Ah, como eu gostaria de ver as dúvidas surgirem na cabeça da pura e doce Marya...

Liriel - ...

Liriel olha para ela por um breve momento e, sem mais palavras, vai embora.

continua...

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